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Eu sei como vocês votaram no verão passado: o apoio dos partidos ao Governo Temer

Atualizado: 2 de out. de 2018


por Rafael Câmara

Uma das marcas da eleição presidencial de 2018 tem sido a tentativa de todos os candidatos de desvincular sua imagem da figura do presidente em exercício e do governo que este tem capitaneado. Trata-se de estratégia compreensível – e até mesmo previsível – uma vez que o atual presidente bateu recordes de impopularidade durante seu mandato e tem atualmente uma elevada taxa de reprovação. Essa situação tem levado a eventos inusitados e que até beiram ao cômico, como os vídeos gravados pelo Presidente nos quais relembra a antigos parceiros políticos de seu histórico de alianças. Por outro lado, a questão adquire um caráter sério se pararmos pra pensar sobre os efeitos que essa estratégia dos candidatos tem sobre a escolha do eleitor no pleito atual, pois não há dúvida de que compreender o comportamento dos partidos no passado é importante para que o eleitor seja capaz de projetar o que se pode esperar desses partidos em um governo futuro. Neste sentido, é fundamental ir além do discurso dos candidatos e observar o comportamento dos partidos nos últimos anos para obter essa informação.


Uma boa maneira de compreender o comportamento dos partidos é observar a atuação dos mesmos nas votações em plenário. O gráfico abaixo mostra o percentual de apoio dos partidos ao governo nas votações nominais da Câmara dos Deputados do início [1] do Governo Temer até junho de 2018. Para o cálculo desse percentual, não foram levados em consideração os deputados que faltaram às sessões legislativas em que ocorreram as votações.


Fonte: Banco de Dados do Legislativo do CEBRAP.


Os dados nos permitem cotejar o discurso dos candidatos à Presidência com a prática dos deputados de seus partidos no atual governo. Vejamos o caso de Geraldo Alckmin, candidato pelo PSDB que tem criticado o Governo Temer em seu programa de governo e em sua propaganda veiculada no Horário Eleitoral. No total de votações para as quais o governo indicou uma posição, 90,1% dos votos dados pelos deputados PSDB foram na mesma direção apontada pelo líder do governo. Padrão semelhante pode ser descrito para todos os partidos que compõe a coligação eleitoral de Alckmin, nenhum dos partidos integrantes de sua extensa aliança eleitoral teve uma taxa de apoio ao governo nas votações inferior a 80%.


Outro caso que chama atenção é o do PSL, partido do candidato Jair Bolsonaro. Durante o período analisado, 86,8% dos votos dos deputados do partido foram na direção indicada pelo líder do governo, enquanto seu parceiro de coligação, o PRTB, teve um percentual ainda maior (97,9%) de votos em apoio ao governo. Bolsonaro tem se apresentado como o candidato da mudança e, dadas algumas declarações recentes do candidato e de seu vice, há boas razões para não menosprezar o impacto que a sua vitória pode ter sobre o funcionamento do sistema democrático. Entretanto, os votos dos parlamentares de seu partido mostram que há também muitas semelhanças entre os interesses de seu partido e os do governo atual.


Se nos ativermos apenas aos concorrentes mais bem colocados nas pesquisas eleitorais, três dos principais candidatos pertencem a partidos que fizeram oposição em plenário ao Governo Temer. No caso de Fernando Haddad, menos de 20% dos votos dos deputados do PT foram na direção indicada pelo líder do governo, o mesmo pode ser dito para seu parceiro de coalizão, o PCdoB. Por sua vez, Ciro Gomes e Marina Silva tem algo em comum: ambos disputam a presidência por um partido que votou em sentido contrário ao indicado pelo governo na maioria das votações nominais, mas tem parceiros de coligação que votaram com o governo na maioria das ocasiões. Mais especificamente, apenas 41,9% dos votos dos deputados do PDT e 27,6% dos da Rede foram favoráveis ao governo, enquanto 61,8% dos votos dos deputados do Avante e 81,5% votos dos deputados do PV foram no sentido desejado pelo governo.


Na política, os discursos tem sua importância, mas não necessariamente são a melhor forma de predizer o comportamento futuro dos políticos. Para essa tarefa, estudar o passado é fundamental.

[1] Temer assumiu a Presidência da República interinamente no dia 12 de maio de 2016.

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