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  • Foto do escritorObservatório das Eleições

Eleição e voto partidário em Minas Gerais

Denisson Silva*

Carlos Ranulfo Melo**


O primeiro turno da eleição desse ano foi uma surpresa para a maioria dos analistas políticos. Entre as novidades, os 51 Deputados Federais eleitos pelo PSL, o que colocou o partido na condição de segunda maior bancada da Câmara. Certamente estivemos diante de um efeito de arraste, por meio do qual a candidatura de Bolsonaro “agregou valor” aos candidatos de seu partido e levou-os ao Legislativo. Diante disso, podemos nos perguntar se este mesmo efeito pode ser observado quando são comparados o desempenho de candidatos a postos executivos e legislativos de outros partidos.


Vamos tomar Minas Gerais como referência. No estado, Jair Bolsonaro (PSL) foi o mais votado, com 42,73% dos votos válidos, e Fernando Haddad (PT) o segundo, com 29,06% dos votos válidos. Para Deputado Federal o quadro se inverte: PT elegeu oito e o PSL seis. Para governador Romeu Zema (NOVO), teve seu associado a Bolsonaro e chegou a 42,73% dos votos, deixando para trás Antônio Anastasia (PSDB), que ficou com 29,06% e Fernando Pimentel (PT) com 23,12% dos votos válidos. Novamente, a situação é distinta para a Assembleia Legislativa: enquanto o PT elegeu a maior bancada, como 10, o PSDB ficou com sete e o Novo com apenas três.


Para verificar até que ponto o eleitor associou seu voto a presidente com o voto para o governo estadual e legislativo vamos olhar os resultados eleitorais no menor nível de agregação possível, ou seja, os dados disponibilizados pelo Tribunal Superior Eleitoral no nível da urna.


O exercício será feito para o estado de Minas Gerais, considerando o voto no candidato a presidente como referência. Serão considerados os votos nos candidatos do PSL e PT que foram para o segundo turno da eleição presidencial e aqueles dados aos candidatos do PSDB e NOVO, presente no segundo turno para o governo mineiro. O gráfico 1, abaixo, mostra o que acontece quando são comparados os votos para Deputado Estadual e Presidente levando em conta os quatro partidos.


Gráfico 1:


Como se pode perceber, não existe relação entre o número de votos agregados por seção eleitoral (urna) quando são considerados os eleitores do NOVO e do PSDB. Já para os casos do PT e do PSL é possível apontar uma relação: quanto mais votos para Deputado estadual em uma dada urna, mais votos para o candidato a presidente do mesmo partido. O resultado é ainda um pouco mais claro para o PT do que para o PSL, o que pode ser visto de forma agregada no resultado eleitoral – nesse nível o PT elegeu nove deputados, e o PSL seis.


No gráfico 2, quando se analisa a relação entre votos para Deputados Federais e Presidente o resultado é similar ao anterior: eleitores do PT associaram de forma mais consistente – se comparados aos do PSL – os votos para a Câmara e a Presidência da República. No caso dos eleitores do Novo e do PSDB não se constata relação alguma.


Gráfico 2:

No gráfico 3 examinamos a relação entre os votos a Governador e Presidente. Nesse caso, vemos de forma muito clara que a relação, novamente, é positiva pra o PT, ou seja, quanto maior o número de votos dados a Pimentel, maior a votação de Haddad, indicando um forte alinhamento do eleitorado petista. Nos casos do NOVO e do PSDB a relação ainda é positiva, mas é evidente, pela maior dispersão dos pontos no gráfico, que os votos dados a Zema ou a Anastasia não foram tão claramente direcionados a Amoedo ou Alckmin – o que pode ser explicado pela elevada votação de Bolsonaro (42,7%) no estado.


Gráfico 3:

No gráfico 4, logo abaixo, verificamos que o total de votos na urna para Romeu Zema (NOVO) e Anastasia (PSDB) estão relacionados com os votos a Jair Bolsonaro. A relação é ainda mais positiva no caso de Zema, o que ajuda a entender sua meteórica subida na última semana do primeiro turno. A última figura do gráfico mostra o que acontece quando agregamos os votos dados a Zema e Anastasia: a maioria dos eleitores do PSDB e do NOVO votou estrategicamente, descarregando seus votos no presidenciável do PSL e abandonando os candidatos de seus respectivos partidos ao Palácio do Planalto.


Gráfico 4:

Pelo que mostram os dados aqui analisados, o voto do eleitorado petista foi partidariamente mais consistente: a votação em Haddad se encontra claramente associada à opção feita para os demais cargos – governador, deputado estadual e federal. O mesmo não pode ser dito a respeito dos eleitores do NOVO e do PSDB – seus votos para deputado (estadual ou federal) não puderam ser partidariamente relacionados com o voto para a Presidência da República e suas escolhas para governador estiveram muito mais nitidamente associadas ao candidato presidencial da extrema direita (Jair Bolsonaro) do que a Amoedo ou Alckmin.


*Doutorando em Ciência Política pela UFMG

** Professor titular do Departamento de Ciência Política da UFMG

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