As plataformas de mídias sociais reforçam o vinculo do público e alteram a própria estrutura comunicacional dos debates políticos televisionados
Por Maiara Orlandini
Desde as eleições de 2010, instrumentos como Facebook e Twitter cresceram substancialmente. O primeiro debate entre candidatos à Presidência nas eleições 2018 foi o da TV Bandeirantes. Segundo dados do Ibope[1], atingiu média de 445 mil pessoas, índice de 1,2 pontos de audiências maior do que o alcançado pela mesma emissora no debate de 2014 [2]. Entretanto, a repercussão maior foi promovida pelas redes sociais. Em seu canal do Youtube, a Band passou da marca de 390 mil espectadores simultâneo, conforme relatório da plataforma divulgado pela emissora aos meios de comunicação. Ainda segundo o relatório, no Twitter, foram mais de 1,9 milhão de tweets globalmente sobre o debate, volume 140% maior que os 797 mil tweets publicados na plataforma durante o confronto de 2014.
O segundo debate foi realizado pela RedeTV rendeu 3,4 pontos de audiência no Ibope, entretanto foi marcado como a maior transmissão multiplataforma, sendo transmitido via streaming pelo Facebook, Twitter e Youtube. A exibição multiplataforma entra como protagonistas no embate presidenciável de 2018 e está reformulando a agenda de campanha já que incitam o engajamento político online ao mesmo tempo que garante a audiência, uma vez que os telespectadores não só acompanham a transmissão mas também produzem conteúdo sobre o que é consumido.
Em tempos onde todo conteúdo – político ou não – é intersecionado pelo discurso online, os debates presidenciáveis multiplataforma podem ser caracterizados por reforçarem o vinculo do público com o evento transmitido e se estabelecer como locus de negociação de sentido na qual a audiência se engaja e utiliza de estratégias para dar mais visibilidade à determinado discurso. Nesse contexto ressaltamos o potencial entre transmissões audiovisuais ao vivo televisionadas e a distribuição digital desse conteúdo pelas plataformas digitais. A negociação entre os dois modelos comunicacionais – televisão e streming – alavanca o surgimento das conexões intermidiáticas, que redimensionam os efeitos e alteram a própria estrutura de comunicação de um debate político.
Debate na RedeTV
O debate na RedeTv [3], por exemplo, conquistou a marca de maior transmissão multiplataforma do país. A parceria com o Facebook, Twitter, Youtube, IstoÉ e UOL, fez com que a emissora atingisse cerca de 300 mil pessoas que acompanham a transmissão do debate de forma simultânea[4]. A emissora também realizou três lives streams até a hora do debate na qual uma delas destacou a relevância cada vez maior das redes socias nas eleições.
Somente no Facebook, o streaming do debate da RedeTV alcançou 3,2 milhões de pessoas e recebeu 22 mil compartilhamentos. Já no Twitter, a emissora bateu o recorde de maior transmissão ao vivo na América do Sul. A hashtag #DebateRedeTV também chegou ao 1º lugar nos Trending Topics mundiais durante o debate, e foi mencionada cerca de 417 mil vezes em 4 horas. Além disso, a live na plataforma teve 470 mil espectadores. No Instagram Stories da RedeTV! também houve conteúdo especial sobre o debate com vídeos dos bastidores, imagens do cenário e informações extras sobre a estrutura do evento.
No canal do YouTube, a RedeTV teve um pico de audiência que alcançou 168 mil espectadores. Porém, mesmo se tratando de transmissões ao vivo, a repercussão e audiência continuam mesmo após o fim da exibição. Isso ocorre porque o conteúdo transmissionado pelas plataformas sociais ficam salvos e podem ser assistido posteriormente, reconfigurando a memória do conteúdo, ou seja, sem limitações de temporariedade.
A ascensão das mídias sociais está mudando fundamentalmente o cenário da televisão: No caso do debate da RedeTv, os internautas que acompanharam o debate nas plataformas digitais tiveram, durante os intervalos comerciais, um termômetro, em tempo real, das interações que produziram. Essa ferramenta apontava os candidatos e os temas com maior repercussão nas plataformas online.
Reinvenção da TV
Foi recorrente a fala de especialistas que afirmavam que a internet iria matar a televisão. Com o passar do tempo o que vemos é a hibridização das práticas televisivas ao online, na qual a “Web e a televisão estão se complementando e não competindo entre si. […] A Internet não matou a TV; de fato, ela se tornou sua melhor amiga”. (PROULX; SHEPATIN, 2012, p. 03). Metáforas à parte, o que vemos é uma reconfiguração na experiência televisual acionada simultaneamente pelo uso da internet. A internet, ao mesmo tempo que incorporou a linguagem e os produtos da televisão, também foi por eles incorporada. Ou seja, da mesma forma que o conteúdo da TV é repercutido nas plataformas online, seja pela simples visualização via streaming ou pelos comentários dos usuários, o conteúdo gerado na internet volta direcionando a programação televisiva.
Conteúdos ao vivo, como partidas de futebol, reality shows ou debates eleitorais, proporcionam novas possibilidades interativas a partir do processo de plataformização e streaming. Através das palavras de Henry Jenkins, Joshua Green e Sam Ford (2014), entendemos os meios de comunicação tradicionais como componentes com potencial de se estabelecerem como “mídia propagável” que possibilita e permitem a participação efetiva do público.
Tensionando o foco do artigo, o que fez com o que um debate presidenciável se tornasse propagável, mesmo em tempos de descrença política, foram os recursos técnicos disponibilidades para tais fins. O objetivo da mentalidade propagável é criar conteúdos que “vários públicos possam espalhar por diferentes motivos, convidando as pessoas a moldar o contexto do material conforme o compartilham no âmbito de suas redes sociais” (Jenkins; Green; Ford, 2014, p. 29). Nesse cenário, o público desempenha um papel ativo e principal da propagação dos conteúdos já que todo conteúdo propagado é “refeito”. Seja de modo figurado, quando o conteúdo é inserido em conversações por meio de diversas plataformas; ou de modo literal, quando trechos são dos debates são postados como forma de meme ou mobilização política. Logo, o público não é apenas mais um dado no processo da comunicação. Ele é um propagador e um gerador de conteúdo, em um mundo que vive profundas mudanças no modo de se comunicar. O público é peça essencial em um mundo onde o que não se propaga, morre (Jenkins; Green; Ford, 2014, p. 234).
O engajamento do público está no centro das atenções mercadológicas e acadêmicas na área da comunicação. O desenvolvimento das plataformas de mídia sociais aumentou esse interesse, já que influencia diretamente sobre a participação e engajamento da audiência. O conceito de TV social (Moe; Poell; Van Dijck, 2015) diz sobre a combinação de tecnologias que permitem experiências sociais distintas sobre o conteúdo televisionado, geralmente fazendo alusão sobre a convergência entre televisão e mídias sociais. Fazer com que o público se envolva com conteúdo sempre foi de suma importância para qualquer pessoa com participação ou interesse na mídia. Nesse sentido, parece-nos que, mais do que se apropriar dos debates online para amplificar e discutir suas emissões, uma transmissão audiovisual ao vivo via streaming de iniciativas como a dos debates políticos têm no modelo intermidiático um marco de sua atuação.
[[1]]https://politica.estadao.com.br/noticias/eleicoes,debate-presidencial-gera-audiencia-na-tv-e-nas-redes-sociais,70002443323
[2]https://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/08/1506543-primeiro-debate-entre-presidenciaveis-deixa-band-em-3-lugar-no-ibope.shtml
[3]http://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/eleicoes2018/blog/eleicoes-2018/redetv-faz-o-maior-debate-multiplaforma-da-historia
[4]http://www.redetv.uol.com.br/jornalismo/eleicoes2018/blog/eleicoes-2018/redetv-faz-o-maior-debate-multiplaforma-da-historia
Referências Bibliográficas
MOE, H., POELL, T.; VAN DIJCK, J. Rearticulating audience engagement social media and television. Television & New Media, 17(2), 99-107. 2016
JENKINS, Henry. Cultura da Convergência. São Paulo: Ed. Aleph, 2008.
JENKINS, Henry; FORD, Sam; GREEN, Joshua. Spreadable media – creating value and meaning in a networked culture. New York and London: New York University Press, 2013.
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