Fabiano Santos*
O tema mais comentado da conjuntura eleitoral consiste no dilema dos eleitores de esquerda entre esperar o desenlace do drama da candidatura petista, dada a quase certa impugnação de Lula da Silva, versus se lançar de imediato no apoio a um nome competitivo e experiente, como, por exemplo, o de Ciro Gomes. Na falta de um acordo entre o PT e o candidato pelo PDT, a maioria deste campo parece inclinada a sufragar o nome indicado por Lula e aliados, o de Fernando Haddad. Assunto não tão comentado, todavia central, consiste na dificuldade encontrada pelo campo da centro-direita, leia-se PSDB e aliados tradicionais, como DEM e PPS, em empolgar seus apoios costumeiros nas elites e classe média e, assim, suplantar Jair Bolsonaro como opção preferencial das forças deste lado do espectro. Talvez esta seja a questão mais intrigante para os analistas que previam um retorno relativamente rápido à estrutura mais consolidada e inteligível de competição eleitoral no país, polarizada entre petistas e tucanos. Por que afinal Bolsonaro mostra-se tão resistente?
Muito provavelmente duas ordens de fatores têm pesado para que o apoio ao candidato do PSDB e demais partidos da direita não radical brasileira não esteja crescendo tal como imaginado por estrategistas e analistas. Vejamos.
No plano econômico a maior dificuldade reside em convencer a classe média de que o atual estado das coisas não é de sua responsabilidade. Pesa sobre o governo Temer enorme impopularidade, alimentada por crescente pessimismo quanto ao futuro da economia, às perspectivas de emprego, e ao bem estar das famílias. Os brasileiros, muito racionalmente, projetam no tempo aquilo com o qual se defrontam no presente e este, o presente, não é nada animador. Difícil dissociar o PSDB da agenda econômica do atual governo. Toda a argumentação técnica para o afastamento de Dilma Rousseff foi montada por quadros importantes do partido, assim como todas as votações fundamentais de projetos que marcam a gestão temerista foram inspiradas em economistas ligados organicamente ao partido e apoiadas maciçamente pelos parlamentares tucanos. Lógica elementar, aquela mesma que vinculava a crise financeira de 2015 à Dilma, agora atrapalha os planos eleitorais de Alkmin e aliados – se a vida vai mal, e existe um governo responsável pela administração das coisas, então, o governo e seus aliados são responsáveis pelo fato da vida ir mal.
No plano político, o PSDB encontra enorme dificuldade em se livrar da imagem de partido inconsistente. Sabe-se que a radicalização adotada nos últimos momentos da presidência petista e que o levou a trabalhar pelo impeachment, mesmo aos custos de gerar quadro de enorme instabilidade no futuro, teve por base acusações de corrupção feitas ao adversário, o PT, como se as práticas de financiamento aos partidos também não pudessem em algum momento atingi-lo. Atingiu, criando enorme problema de consistência, aos olhos do eleitor, à imagem do partido – suas lideranças, as mesmas que fizeram emergir o tema da corrupção como central na agenda pública, parecem estar envolvidas em práticas de financiamento ilegal de campanhas.
O que fazer? Certamente não existe resposta pronta e acabada. Somente o desenrolar do processo fornecerá alguma luz. Fica a lição, de toda forma, sobre a complexidade e delicadeza das instituições democráticas,e sua refração aos que com elas brincam.
* Fabiano Santos é cientista político, professor do IESP/UERJ e subcoordenador do INCT - Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação
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