por Maria Vitória de Almeida*
As eleições de 2018 estão dando o que falar, após um período de instabilidade institucional que foi iniciado com a mobilização do Congresso Nacional para o Impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff e as revelações da Lava Jato, que colocaram diversos políticos e empresários na berlinda.
Com isso a corrida presidencial e para o governo dos estados começou com um alto teor de incerteza dos possíveis resultados eleitorais. As pesquisas de opinião mostram que o cenário eleitoral de 2018 é altamente competitivo. Os políticos enfrentam a dura missão de reconquistar o eleitorado e de atrair os eleitores às urnas. Num cenário tão incerto a respeito dos futuros representantes, apresentamos a radiografia do perfil dos candidatos e dos partidos.
As eleições brasileiras são altamente competitivas e o gráfico abaixo apresenta uma comparação entre o número de candidatos lançados por cargo nas eleições de 2014 e 2018. O gráfico 1 indica que o número de candidatos por cargo pouco se alterou quando comparamos as eleições de 2014 com as de 2018. Para o cargo de Presidente da República tínhamos 12 candidatos concorrendo em 2014 e, agora, 13. Os demais cargos também não apresentam grande oscilação.
Gráfico 1: Relação entre Número de Candidatos por Cargo
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE.
Os estudos da Ciência Política constantemente analisam a organização e a força dos partidos políticos por meio dos dados de lançamento e de eleição de candidatos. O lançamento de candidatos representa certa organização dos partidos no território, demonstrando a presença das agremiações em determinadas regiões e municípios.
Nas eleições de 2018, quais foram os partidos que mais lançam candidatos? De acordo com os dados do TSE, os cinco partidos que mais ofertaram candidatos em 2018 são o PSL (1520 candidatos), PSOL (1333), PT (1284), Patriotas (1168) e MDB (1107). Se compararmos com os dados de 2014, notamos que há uma mudança dos partidos que conseguem lançar candidatos, nas eleições de 2018 os partidos que mais lançaram candidatos foram: PT (1336), PSB (1353), MDB (1312) e PSOL (1253). Os dados mostram que o PT e o MDB são os partidos que mais conseguem lançar candidatos nas eleições nacionais, destacando a organização desses partidos ao longo dos ciclos eleitorais. Outro fator que podemos observar é que os partidos de uma forma geral conseguem lançar um alto número de candidatos, revelando a presença dessas agremiações em todo o país.
Gráfico 2 e 3: Relação entre Número de Candidatos Lançados por Partido
para as eleições de 2014 e 2018
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE.
O maior número de candidatos homens é um fator que vem sendo observado nos diversos tipos de regimes políticos. Teresa Sacchet e Bruno Speck apontam que a baixa presença de mulheres em espaços de tomada de decisão política assumiu uma posição central para a representação política uma vez que esse debate abrange a discussão sobre o papel das mulheres nos cargos da alta burocracia estatal, nos partidos políticos e em cargos eletivos.
Em relação à baixa presença de mulheres nas disputas eleitorais, o Brasil não foge à regra. Os gráficos 4 e 5 destacam que a maioria (68,95% em 2014 e 68,74 em 2018) dos candidatos apresentados são do sexo masculino.
As candidaturas femininas ainda enfrentam diversos desafios. Um deles está ligado ao financiamento das candidaturas femininas. Os estudos mostram que as mulheres captam menos recursos do que os homens. A partir desta constatação, o TSE aprovou uma medida que visa reduzir a desigualdade entre homens e mulheres no acesso a recursos financeiros para as campanhas políticas. Neste ano, os partidos são forçados a destinar ao menos 30% dos recursos do Fundo Especial de Financiamento de Campanha e 30 % do tempo de rádio e TV para as candidaturas femininas. Essa medida visa aumentar, na prática, o número de mulheres no Senado e Câmara dos Deputados.
Gráfico 4 e 5: Candidaturas Femininas e Masculinas nas
Eleições de 2014 e 2018 em porcentagem.
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE.
O perfil étnico-racial dos candidatos pouco mudou também. Os gráficos 6 e 7 apontam que a maioria dos candidatos lançados as disputas eleitorais de 2018 e 2014 são de candidatos brancos. Cloves Luiz Pereira Oliveira destaca em seus estudos que as candidaturas brancas prevalecem como o padrão do recrutamento político-eleitoral no Brasil para os cargos de políticos. Há com isso um preconceito sistêmico, aponta o autor, em relação as candidaturas negras que recebem pouco suporte político e financeiro dos partidos políticos.
Gráfico 6 e 7: Perfil étnico-racial dos candidatos
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE.
Se falta diversidade em relação ao gênero e à etnia dos candidatos, isso não acontece em relação ao perfil ocupacional. Os gráficos 8 e 9 mostram que os candidatos se encontram nas mais diversas profissões. Em 2014 e 2018 as ocupações que mais apresentaram candidatos foram as de empresário, advogado e comerciante, quando não ligados à política. A porcentagem de candidatos lançados que não se encaixam nas profissões destacadas é bem alta (49,77 em 2014 e 57,91 em 2018). Esse fator indica que há uma grande diversidade em relação a profissão dos candidatos nas últimas eleições.
Gráficos 8 e 9: Perfil de ocupação dos candidatos às eleições de 2014 e 2018 em porcentagem
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE.
O nível da escolaridade dos candidatos está aumentando. O gráfico 10 indica que nossos candidatos têm, em sua maioria, o ensino médio completo e o ensino superior completo. O perfil da alta escolaridade não é novidade nas eleições de 2018, pois as taxas não variam muito em relação às eleições de 2014.
Gráfico 10: Escolaridade dos candidatos às eleições de 2014 e 2018 em porcentagem
Fonte: Elaborado pela autora a partir de dados do TSE.
A radiografia apresentada mostra que o perfil sofreu poucas alterações em relação às eleições de 2014. Em sua maioria, os candidatos são homens, brancos e com alta escolaridade. Isso aponta que mais uma vez as mulheres, os negros e os indígenas são sub-representados já no momento do lançamento das candidaturas. Para uma paridade da representação dos estratos sociais ainda há um longo caminho a ser percorrido e esse é um desafio para a democracia brasileira.
* Doutoranda em Ciência Política pela Unicamp e integrante do Observatório das Eleições.
Fontes:
SACCHET, Teresa; SPECK, Bruno Wilhelm. Financiamento eleitoral, representação política e gênero: uma análise das eleições de 2006. Opin. Publica [online]. 2012, vol.18, n.1, pp.177-197.
OLIVEIRA, Cloves Luiz Pereira. Estratégias eleitorais de políticos negros no Brasil na era do marketing político. Rev. Bras. Ciênc. Polít. [online]. 2016, n.21, pp.321-360.
Comments