Marisa von Bülow*
As eleições brasileiras de 2018 estão sendo caracterizadas pelo uso intenso, ainda que controverso, das novas tecnologias digitais. Em parte, isso se deve às mudanças recentes na legislação eleitoral, que criaram novos incentivos para o uso da Internet. Essas mudanças têm a ver com o financiamento de campanhas, que proibiu as doações empresariais mas manteve a possibilidade de contribuições por meio das “vaquinhas virtuais”. Além disso, novas regras abriram a possibilidade inédita de pagar por propaganda nas chamadas “mídias sociais” e em plataformas de busca de conteúdo.
As mudanças na legislação eleitoral potencializaram uma tendência anterior. Cada vez mais brasileiros e brasileiras estão conectados, especialmente por meio do uso de celulares. Cada vez mais os cidadãos informam-se sobre política por meios digitais. Isso significa que candidatos, candidatas e partidos têm que investir nas suas estratégias digitais, integrando-as como parte fundamental e inseparável da campanha eleitoral.
O Observatório das Eleições do INCT busca analisar o comportamento desses atores, mas vai além. Tão interessante quanto monitorar os usos da Internet por parte de candidatos(as) e partidos é analisar o comportamento de eleitores e de organizações da sociedade civil. O ativismo digital eleitoral pode ter repercussões extremamente positivas. Abre mais oportunidades para a participação de indivíduos que não têm militância partidária mas que querem, por exemplo, divulgar as ideias de um(a) candidato(a) ou apoiar uma campanha fazendo uma doação financeira.
Por outro lado, esse mesmo ativismo digital eleitoral pode ter consequências negativas do ponto de vista da qualidade dos debates. Por exemplo, nos últimos anos tem havido um debate importante sobre a difusão de notícias falsas e seus impactos em eleições. Para além da produção e difusão de mensagens intencionalmente mentirosas, há um cardápio variado de formas de distorção e de manipulação dos debates políticos on-line. Sabemos, por exemplo, que existem práticas como a compra de “seguidores” de contas, ou a compra de reações positivas e de comentários. Sabemos também sobre o uso disseminado de robôs. Essas práticas representam desafios importantes à integridade e à qualidade de qualquer debate eleitoral, não apenas no Brasil, mas no mundo todo.
O INCT busca contribuir para entender essas mudanças no uso de tecnologias digitais e no ativismo eleitoral de uma ampla gama de atores, incluindo candidatos(as), partidos políticos, organizações da sociedade civil e eleitores de forma geral. O Instituto dá acesso a dados sobre os usos da Internet e analisa estratégias digitais. Ao fazê-lo, contribui para o debate público e transparente sobre as eleições em geral e os impactos do ativismo digital em particular.
* Professora do Instituto de Política da UnB. Pesquisadora do Instituto da Democracia e da Democratização da Comunicação
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