Por Otávio Catelano* e Maria Vitória de Almeida**
Após o final da apuração dos resultados do primeiro turno, o Observatório reuniu informações referentes às disputas para os governos estaduais. Dos 27 cargos em disputa, 13 foram decididos em primeiro turno, enquanto os outros 14 só vão conhecer as decisões finais do eleitorado no dia 28 de outubro.
Tabela 1: Governadores eleitos em primeiro turno. Partidos em primeira e segunda colocação e suas respectivas porcentagens.
Fonte: TSE.
Entre os 13 governadores que já foram eleitos no último domingo, encontramos um alto número de reeleitos: sete, no total, sendo três do PT, dois do PSB, um do PCdoB e um do MDB. O pleito mais acirrado aconteceu em Pernambuco, onde Paulo Câmara (PSB) ficou 14,7 pontos percentuais à frente de Armando Monteiro (PTB). Enquanto isso, no Ceará, Camilo Santana (PT) foi o candidato que encontrou mais folga.
O resultado do Acre também chamou a atenção, pois o estado foi governado pelo PT nas últimas duas décadas. Neste ano, mais de 50% do eleitorado preferiu o candidato do PP, Gladson Cameli, logo no primeiro turno.
Para além desses resultados, as disputas continuam em mais da metade dos estados. Em relação ao segundo turno, em apenas cinco deles o partido que venceu a disputa de 2014 conseguiu figurar entre as duas primeiras colocações - PSDB no Mato Grosso do Sul e em São Paulo, PDT no Amapá, PSB no Distrito Federal e o PSD em Santa Catarina. Na maioria dos casos, a distância entre os candidatos não ultrapassa 15 pontos (as exceções são o DF, o RJ, o SE e o PA). Ou seja, muitos resultados ainda estão em aberto.
Tabela 2: Estados cujas disputas para governadores terá segundo turno. Partidos em primeira e segunda colocação e suas respectivas porcentagens. Os partidos sinalizados com # venceram a mesma eleição no estado em 2014.
Fonte: TSE.
As maiores surpresas foram os desempenhos dos candidatos Romeu Zema (NOVO), em Minas Gerais, e Wilson Witzel (PSC), no Rio de Janeiro. Nas pesquisas estimuladas realizadas pelo Ibope e divulgadas na véspera da eleição, Zema encontrava-se em terceiro lugar, com 23% dos votos válidos, e Witzel em quarto, com 12%.
No entanto, devemos levar em consideração um fator. Antes, lembramos aos leitores que votos brancos e nulos não são válidos, ou seja, não são contabilizados. Por exemplo: num cenário 1 temos 100 eleitores, e todos os 100 votaram em candidatos (votos válidos). Neste cenário, o candidato A, que recebeu 20 votos, tem 20% dos votos válidos (20/100). Num cenário 2 temos 100 eleitores, mas 20 deles votaram em branco ou nulo. Neste cenário, o candidato A, que também recebeu 20 votos, tem 25% dos votos válidos (20/80). Assim, quanto maior a quantidade de votos inválidos, maior a porcentagem de um candidato, mesmo que ele não tenha conquistado tantos eleitores a mais do que conquistaria em um cenário com quantidade menor de votos inválidos.
De volta à análise: em MG, o Ibope apontava que, na véspera do pleito, 13% dos eleitores disseram que votariam em branco ou anulariam o voto, enquanto 9% estavam indecisos ou não responderam. No resultado final divulgado pelo TSE, um total de 20,63% do eleitorado votou em branco ou nulo, ou seja, apenas 79,37% dos votos foram contabilizados. Os mesmos números para o estado do RJ foram 13%, 4%, 18,42% e 81,58%, respectivamente.
A principal hipótese para os crescimentos inesperados de Zema e de Witzel é a de que, no último dia de campanha, eles angariaram uma parcela considerável dos eleitores indecisos e dos votos de outros candidatos, e ainda foram beneficiados pelo alto número de votos inválidos, o que aumentou o percentual de votos válidos de todos os candidatos.
Vale destacar que o Ibope realizou pesquisas de boca de urna para governador em sete estados e os resultados oficiais dos primeiros e segundos colocados estiveram dentro da margem de erro em praticamente todas elas, conforme vemos na tabela abaixo. A única exceção foi a pontuação do candidato eleito no Paraná, Ratinho Júnior (PSD), que atingiu 59,99% dos votos, 2,99% a mais do que o limite superior da margem de erro.
Tabela 3: Primeiro e segundo colocados nas pesquisas Ibope de boca de urna para governadores (DF, MG, PE, PR, RJ, RS e SP) e comparação com os resultados oficiais. As pesquisas foram estimuladas.
Fontes: Ibope e TSE.
Na Tabela 3, o que chama a atenção é a corrida para o governo paulista, por conta do empate técnico para o segundo lugar. O estado de São Paulo é governado há 24 anos pelo PSDB, partido que alçou o candidato João Doria ao segundo turno com 31,77% dos votos válidos. O segundo lugar ficou com Márcio França (PSB), que teve 21,53%, apenas 0,44% a mais que o terceiro colocado, Paulo Skaf (PMDB). No entanto, é necessário lembrar que a chapa vencedora em 2014 era composta por Geraldo Alckmin (PSDB) e pelo próprio França.
Por fim, trazemos dados relacionados à ideologia dos partidos¹. Os partidos localizados à direita terminaram em primeiro lugar em 11 estados, tendo conquistado cinco deles em primeiro turno (AC, GO, MT, PR e TO). As agremiações de centro lideraram em sete estados, tendo vencido já em primeiro turno em apenas um (AL). Os partidos de esquerda lideraram em nove estados, mas conquistaram sete deles sem necessidade de segundo turno (BA, CE, ES, MA, PB, PE e PI).
Quanto às disputas de segundo turno: a direita e o centro disputam em quatro estados (PA, RO, MG e RR); o centro e a esquerda em três (DF, MS e SP); a direita e a esquerda em dois (AM e SE). Dois partidos de direita concorrem entre si em dois estados (RJ e SC); dois de esquerda em dois (AP e RN); e dois de centro em um (RS).
*Bacharel em Ciências Sociais pela Unicamp e integrante do Observatório das Eleições.
**Doutoranda em Ciência Política pela Unicamp e integrante do Observatório das Eleições.
¹Para a análise, a classificação ideológica utilizada para os partidos que constam nos dados foi a seguinte:
- MDB, PSDB e PV: Centro.
- DEM, NOVO, PHS, PP, PR, PSC, PSD, PSL, PTB e SD: Direita.
- PCdoB, PDT, PSB e PT: Esquerda.
Esta classificação foi desenvolvida a partir dos trabalhos dos cientistas políticos Timothy Power e César Zucco (2011).
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