Oswaldo E. do Amaral*
O Partido dos Trabalhadores (PT) anunciou, na terça-feira (11), Fernando Haddad como o substituto de Lula na disputa presidencial de 2018. No mesmo dia, o Ibope divulgou mais uma pesquisa de intenção de votos para a Presidência em que Jair Bolsonaro (PSL) aparece na frente com 26,2%, seguido de quatro candidatos disputando o segundo lugar: Ciro Gomes (PDT), com 10,7%; Geraldo Alckmin (PSDB), com 9,1%; Marina Silva (REDE), com 8,9%; e Fernando Haddad (PT), com 8%.
A mesma pesquisa perguntou sobre a preferência partidária dos entrevistados (pergunta estimulada e única). 39,2% dos respondentes disseram não preferir nenhum partido e 8,2% não souberam responder. Os partidos preferidos pelos eleitores são: PT, com 24,4% das menções; PSDB, com 5,4%; e, surpreedentemente, o PSL, de Jair Bolsonaro, com 5,1%. Desses dados é possível tirar duas conclusões: (a) o PT continua sendo o partido político preferido dos brasileiros, mesmo após todo o desgaste sofrido nos últimos anos; (b) Jair Bolsonaro consegue, aparentemente, inflar a preferência pelo PSL, o que pode significar que candidatos do partido nas eleições proporcionais (deputados federais e estaduais) podem se beneficiar dessa identificação.
Como há uma diferença de 16,4 pontos percentuais entre os que preferem o PT e os que afirmaram que pretendem votar em Fernando Haddad, é importante analisar por onde andam os votos dos que têm simpatia pelo partido até aqui. Cruzando os dados, chegamos ao seguinte: 22,7% dos “petistas” declararam voto em Haddad; 22,3% declararam que pretendem votar nulo ou em branco; 16,2%, em Ciro Gomes; 10%, em Marina Silva; 7,8%, em Geraldo Alckmin; e 5,5%, em Jair Bolsonaro.
A preferência partidária pode ter distintos significados para os respondentes e não ser, necessariamente, o fator principal para a escolha de um determinado candidato à Presidência. No entanto, no Brasil, segundo a literatura especializada, ela tem sido um bom preditor de voto. Ou seja, identificar-se com algum partido aumenta bastante a chance de escolher o candidato daquela legenda diante da urna.
Segundo dados do Estudo Eleitoral Brasileiro (Eseb), tanto em 2010 quanto em 2014, cerca de 80% dos eleitores que declararam simpatizar com o PT acabaram escolhendo a candidata Dilma Rousseff no primeiro turno. Esses números destoam bastante do que encontramos neste momento nas eleições de 2018.
Dessa forma, é possível imaginar que, para crescer e tornar-se um candidato competitivo, o primeiro movimento da candidatura de Fernando Haddad deverá ser o de recuperar o estoque de votos de “petistas” que hoje estão dispersos, especialmente, entre brancos e nulos, Ciro Gomes e Marina Silva. Para isso, o candidato terá que ser capaz de se apresentar como o legítimo defensor do legado dos governos do PT, base sobre a qual se assentou o crescimento da preferência pelo partido nos últimos anos.
No entanto, dessa vez, diferentemente das duas últimas disputas, o candidato conta com um concorrente mais forte nessa raia, Ciro Gomes. Nesse momento, segundo os dados do Ibope, 36,4% dos eleitores do pedetista simpatizam com o PT.
Se a disputa para o PT está mais dura, os dados também evidenciam um dos dilemas que a candidatura de Ciro Gomes deverá enfrentar: criticar o PT e conquistar votos mais ao centro ou defender aspectos do governo petista e brigar mais diretamente pelos votos da esquerda? Falta pouco tempo para as eleições e as decisões devem ser tomadas em breve.
* Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.
O Observatório das Eleições agradece ao Ibope pela cessão da base de dados da pesquisa realizada entre 08 e 10 de setembro, registrada no TSE sob o protocolo 05221/2018. A pesquisa contou com amostragem nacional (2002 entrevistas) e possui margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
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