Oswaldo E. do Amaral*
Em recente livro, os cientistas políticos David Samuels e Cesar Zucco [1] demonstraram o impacto das preferências partidárias no comportamento político dos brasileiros. Segundo os autores, para cerca de metade do eleitorado preferir ou ser contrário a alguma agremiação política ajudaria na tomada de posições políticas e na decisão do voto para todos os cargos – refutando a visão de que os partidos pouco importariam nas escolhas eleitorais no Brasil.
Dada a distribuição das preferências dos eleitores, quando falamos em partidarismo e antipartidarismo no Brasil, estamos basicamente tratando de “petismo” e “antipetismo”. Segundo a pesquisa Ibope divulgada no dia 11 de setembro, 24% dos eleitores afirmaram ter simpatia pelo PT. Bem atrás estava o PSDB, com 5%. O Ibope também perguntou sobre o partido em que o entrevistado “não votaria de jeito nenhum”. 30% dos respondentes mencionaram o PT e 8%, o PSDB. Nesse texto exploramos as características dos “antipetistas” (aqueles que não votariam no partido de jeito nenhum) e identificamos suas preferências eleitorais e possíveis impactos para a disputa presidencial.
Começamos por apresentar as características dos “antipetistas”. Para isso, realizamos uma análise por meio de uma regressão logística multinomial. Esse tipo de análise permite a comparação entre grupos diferentes. Aqui, comparamos os que não rejeitavam nenhum partido (categoria de referência – 34% dos eleitores) com os que rejeitavam o PT (30%) e com os que rejeitavam os outros partidos (36%).
Os dados mostram que o perfil dos que rejeitam o PT e os outros partidos é razoavelmente parecido. Quanto maior o nível de escolaridade, maior e chance de rejeitar alguma legenda. O mesmo acontece com a variável “sexo”: homens têm mais chance de rejeitar algum partido do que as mulheres. As diferenças estão nas variáveis “idade” e “região” e na intensidade dos resultados. Os mais jovens têm mais probabilidade de rejeitar os outros partidos. Para o PT, essa variável não apresenta impacto. Com relação à “região”, tomando os eleitores do Sudeste como base, os eleitores do Nordeste apresentam 40% menos chance de rejeitar o PT. Ou seja, a rejeição ao partido na região é menor mesmo quando controlamos pelas variáveis “idade”, “escolaridade” e “sexo”. Por fim, a intensidade da rejeição de acordo com a escolaridade é maior entre os “antipetistas”. Entre os que chegaram a frequentar o Ensino Superior, a chance de rejeitar o PT é cinco vezes maior do que entre aqueles que cursaram até o quinto ano (antigo primário). Esses dados estão de acordo com o que encontraram Samuels e Zucco em seu trabalho, em que indicam um maior nível de rejeição à legenda por parte dos mais ricos e escolarizados nos últimos anos.
Nas últimas disputas presidenciais, os candidatos do PSDB conseguiram captar a preferência dos “antipetistas”. E agora? Os dados do Ibope mostram que, nesse momento, é Jair Bolsonaro (PSL) quem está recebendo a maior fatia dos votos dos que rejeitam o PT. 53% dos “antipetistas” declararam ter a intenção de votar no capitão reformado e apenas 9%, em Geraldo Alckmin (PSDB). Se tomarmos o “antipetismo” como uma força política, isso ajuda a entender o baixo desempenho do candidato tucano até aqui.
No entanto, esses dados apontam também, de maneira paradoxal, para a possibilidade de crescimento de Geraldo Alckmin. Se a candidatura de Fernando Haddad crescer e se consolidar, com chances de ir ao segundo turno, e a rejeição de Jair Bolsonaro continuar elevada, é possível que os “antipetistas”, temendo pelo pior, optem por retornar ao ninho tucano – o voto útil. É provavelmente nisso que a candidatura de Alckmin irá apostar nos últimos dias de campanha no primeiro turno.
[1] “Partisans, Antipartisans, and Nonpartisans: Voting Behavior in Brazil”. Cambridge: Cambridge University Press, 2018.
Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.
O Observatório das Eleições agradece ao Ibope pela cessão da base de dados da pesquisa realizada entre 08 e 10 de setembro, registrada no TSE sob o protocolo 05221/2018. A pesquisa contou com amostragem nacional (2002 entrevistas) e possui margem de erro de dois pontos percentuais e nível de confiança de 95%.
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