Por Oswaldo E. do Amaral*
Com o final da apuração, uma nova composição na Câmara dos Deputados surgiu no Brasil. A taxa de renovação aumentou e atingiu 53%, contra 47% quatro anos antes. A melhor ilustração dessa renovação foi o crescimento do Partido Social Liberal (PSL), do candidato à presidência Jair Bolsonaro, que saltou de um para 52 deputados federais. Do lado oposto, MDB e PSDB perderam, respectivamente, 31 e 25 cadeiras. Partidos com menos de 2% das cadeiras elegeram 95 deputados, para dar uma dimensão do nível de fragmentação a que se chegou.
Nesse texto, nosso objetivo é apresentar a nova composição da Câmara dos Deputados a partir da localização ideológica dos partidos. Para isso, posicionamos os partidos nas categorias “Direita”, “Centro” e “Esquerda” a partir dos trabalhos dos cientistas políticos Timothy Power e César Zucco.
Os dados mostram que os partidos localizados à direita do espectro ideológico vêm ganhando força nas últimas legislaturas. Entre 2010 e 2014, foram 48 deputados. Nessa última eleição, o crescimento foi ainda maior: 63. Os partidos de centro viram sua representação minguar de 137 para apenas 75 deputados. As agremiações de esquerda, por sua vez, mantiveram sua representatividade, chegando a 137 cadeiras.
Fonte: Dados organizados pela Equipe Cesop/Unicamp
Esses números atestam o que as eleições presidenciais mostraram: partidos tradicionais e de centro, como o PSDB e o MDB, foram, até o momento, os maiores perdedores. Partidos nanicos e pequenos localizados à direita, como o PSL e o PRB, os maiores vencedores.
Com as restrições impostas pela cláusula de barreira, é provável que se esse quadro se altere rapidamente no que toca ao número de cadeiras de cada partido na Câmara. No entanto, o mais provável é que a migração de deputados se dê no interior de cada bloco ideológico. Por exemplo, o PSL deve ampliar sua bancada com a incorporação de pequenos partidos de direita em caso de vitória de Jair Bolsonaro.
Os dados indicam, dessa forma, que estamos diante de uma renovação conservadora na Câmara. Candidatos de partidos de direita com forte discurso contra a criminalidade e a corrupção e a favor da defesa de valores morais “tradicionais” estiveram entre os mais bem votados nos estados de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, os três maiores colégios eleitorais do País.
Neste cenário, é provável que vejamos a emergência de uma pauta de marcado conteúdo conservador na agenda legislativa nos próximos anos, tanto em temas sociais quanto em temas econômicos. A capacidade de sucesso dessa pauta é incerta. O que é certo é que ela aumenta bastante em caso de vitória de Jair Bolsonaro.
*Oswaldo E. do Amaral é professor do departamento de Ciência Política da Unicamp e diretor do Centro de Estudos de Opinião Pública (Cesop) da mesma instituição.
Os meios de comunicação e o senso comum falam em "renovação". Sim, houve e tem ocorrido. Entretanto, mesmo que isso signifique o afastamento de corruptos e outros políticos carcomidos, não quer dizer que os "novos" são melhores. Ao contrário, do ponto de vista ideológico, tem havido um crescimento do conservadorismo. A extrema-direita avançou muito nesta eleição, ultrapassando o "centro" e a direita tradicional. Esse processo registrado na análise da Câmara de Deputados ocorreu também na ALERJ e possivelmente nas demais assembleias legislativas.